terça-feira, novembro 05, 2013

Ainda alguém se lembra deste blog?

Eu tenho cada vez menos paciência para o facebook, tanto porque me está sempre a impingir publicidade de mau gosto (pergunta-me se quero conhecer os solteiros da zona ou se quero perder peso), como porque é tanta a informação que se recebe, de amigos e conhecidos, inimigos e desconhecidos, que não há cérebro que aguente. Mas, por muito que planeie desistir de vez da minha conta, tenho de admitir que é a forma mais forma de ir dando e recebendo notícias e um grupo crescente de amigos e familiares que se vai espanhando pelo planeta. Houve uma época que era esse o objectivo deste blog. Claro que as contribuições mais assíduas se reduziam a duas ou três pessoas, mas era aqui que o Pedro deixava as suas musiquinhas e a Marta uns vídeosinhos simpáticos.

Eu, entretanto, vou deixando umas fotografias noutro lugar, mas o relato das aventuras nocturnas poderia continuar por aqui. Que fazer? Ressuscitar este blog?

quinta-feira, março 14, 2013

Aventura Nocturna 9

Acho que nunca tinha feito tantos kilometros para ver um filme. A ideia de ir ver um filme a uma sala de cinema que fica numa cidade vizinha, mais precisamente a 30 Km daquelas onde se mora, já me parece um pouco extravagante. Mas isso sou eu, claro, que não conduzo e tenho dificuldades em "sair da malha urbana" como diria alguém que eu conheço. Mas ir num carro com mais dois estrangeiros que, apesar de terem um aparelhómetro chamado GPS, não mostram especial segurança nas suas deslocações, era, à partida, uma aventura arriscada. E correu mal! Entrámos na autoestrada no sentido oposto ao do nosso destino e conduzimos durante quase duas horas, em vez da meia hora que separa Módena de Regio Emilia.

Mas o filme salvou a noite e, pelo menos eu, voltei para casa com a sensação de que tinha valido a pena.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

4/7

"Pensando em todas as paisagens indiferentes que iam iluminar-se e que ainda na véspera apenas me encheriam do desejo de as visitar, não fui capaz de conter um soluço quando, num gesto de ofertório mecanicamente executado e que me pareceu simbolizar o sangrento sacrifício de toda a alegria que iria ter de fazer em cada manhã, até ao fim da minha vida, como renovação solenemente celebrada em cada aurora da minha dor quotidiana e do sangue da minha chaga, o ovo de ouro do Sol, como que propulsionado pela ruptura de equilíbrio que uma alteração de densidade, farpada de chamas como nos quadros, levaria ao momento da coagulação, rasgou impetuosamente a cortina atrás da qual o sentíamos desde há um instante, fremente e prestes a entrar em cena e caminhar, e cuja púrpura misteriosa e imóvel apagou sob as ondas de luz."

Proust, EBTP IV